quarta-feira, 10 de março de 2021

 

 

PALAVRAS NA FESTA COMEMORATIVA DO 38º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL EM TORONTO

 

Em 2012 estive presente, em representação da A25A, nas comemorações do 25 de Abril em Toronto, a convite da Associação Cultural 25 de Abril, Núcleo Salgueiro Maia. É costume os seus dirigentes convidarem um representante da A25A todos os anos, mas nesse ano quiseram também homenagear Aristides de Sousa Mendes, pelo que viajámos, eu e a Marília, acompanhados pelo seu neto Francisco e sua esposa. Foi para nós uma dupla satisfação juntarmos os responsáveis da Associação de Toronto e os familiares do corajoso cônsul de Portugal em Bordéus.

Na festa das comemorações dirigi aos cerca de 200 presentes uma singelas palavras, que aqui reproduzo.

  

Membros dos corpos sociais da AC25A de Toronto, núcleo Salgueiro Maia;

Sr. Cônsul de Portugal em Toronto;

Srs. Representantes políticos presentes;

Minhas Senhoras e Meus Senhores;

Amigos;

 

Caros compatriotas! Portugueses do Canadá!

Eu venho agora de Portugal. E estou aqui, junto de vós, a convite da Associação Cultural 25 de Abril de Toronto e em representação da A25A de Lisboa, para comemorar convosco o 38º aniversário do 25 de Abril de 1974.

Como sabem (hoje tudo se sabe em cima da hora), há muita desilusão na nossa sociedade! Muitas pessoas desconsoladas, muita gente sofrendo. Isso é verdade. A situação exige-nos reflexão e empenho.

A minha primeira ideia, como homem do 25 de Abril, é que nenhuma solução para encarar a crise deve mencionar sequer, a natureza do regime democrático em que vivemos. Foi uma conquista árdua, de milhares de portugueses, democratas, presos, deportados, exilados, emigrantes, todos sofreram para que Portugal fosse um país de liberdade. Esses valores são intocáveis. Custa-me ouvir dizer “isto precisa de um pulso forte” ou “é necessário outro 25 de Abril”!

Portugal tem hoje um regime democrático e de liberdade, que já dura há 38 anos, sem qualquer tentativa de o fazer reverter. Nunca Portugal, na sua História de séculos, viveu um período tão longo de governos do povo.

Outra ideia que me ocorre é a necessidade de modificar algumas linhas mestras do comportamento português.

Por um lado, a ideia, muito disseminada entre os portugueses, de que a vida de cada um depende mais dos outros do que de nós próprios.

É neste ponto que julgo que os emigrantes portugueses podem dar uma excelente lição aos seus compatriotas. Aqueles que tiveram coragem de ir pelo mundo à procura da sua vida, aqueles que viveram a experiência de sociedades competitivas, exigentes, sabem bem o empenho, o sacrifício individual, a vontade necessária para vencer os obstáculos, para conquistar um lugar digno.

E eu vejo aqui, nesta comunidade portuguesa do Canadá, um exemplo a seguir.

Por outro lado, e ao mesmo tempo, também sabem bem a importância que sempre teve a solidariedade como atitude comum (de todos e de cada um), em relação a muitos dos amigos, vizinhos, compatriotas, que não conseguem ou não estão conseguindo chegar a um conforto mínimo.

Quer dizer, com vontade e solidariedade, já temos uma parte do caminho percorrido. Mas não chega!

Nas sociedades evoluídas de hoje, já não chega o empenho pessoal feito de qualquer forma; é preciso planear. Planear a vida, se assim se pode dizer.

E este planeamento é decisivo a partir dos primeiros anos, a partir da escola. Nós temos de estudar mais, temos de saber mais. Os níveis de escolaridade e de formação dos portugueses são perigosamente baixos. Dos mais baixos da Europa! E se há área onde progredimos na oferta, é exactamente na educação. Parece que a procura nem sempre se ajusta ao esperado. Também me custa muito ouvir dizer: “Ele já não precisa de mais estudos, eu só fiz a 4ª classe!”, ou “Já estou cansado de estudar!”, ou “Acabou-se o estudo, vou entrar no mercado de trabalho!”. Isto, como os portugueses que emigraram sabem, não faz sentido nenhum.

Ocorre-me ainda uma outra ideia. Quando será o dia em que poderemos dizer que nos congratulamos com o êxito dos outros? Compreendem o que eu quero dizer… O que eu quero perguntar aos meus compatriotas, em especial aos que nunca saíram de Portugal, como homem do 25 de Abril, é o seguinte: Quando deixaremos de menosprezar os sucessos dos portugueses que se esforçam e conseguem? Quando chegarmos lá, será uma mudança, uma vitória e um avanço.

As ideias são como as cerejas…

Ocorre-me agora perguntar - quando nos tornaremos verdadeiramente exigentes? Exigentes para connosco, é certo, mas também com os outros?

Depois de nos tornarmos exigentes connosco próprios, será que exigimos aos nossos filhos o mesmo empenho? E aos nossos amigos? E aos nossos colegas de trabalho? E aos nossos representantes, em quem votámos, seja no trabalho, seja nos cargos públicos? E aos nossos governantes, que juraram defender o povo, melhorar as condições de vida do povo?

Já falei no estudo, na exigência, na participação…

E como estamos de iniciativa? A iniciativa exige coragem. Será que estamos preparados para a incerteza, será que acreditamos em nós, na nossa capacidade, nas nossas ideias, no nosso projecto?

O que é que vos trouxe de Portugal, até estas terras tão longínquas? A coragem, a confiança em vós próprios, a capacidade de desafiar o mundo. Então precisamos de espalhar essa mensagem, de fazê-la chegar aos nossos compatriotas, a todos eles, ou, no mínimo, a uma grande maioria. Nesse dia, seremos capazes de vencer as adversidades. Só nesse dia!

O que eu quero dizer-vos é que a nossa vida não depende de ninguém, nem mesmo daqueles que escolhemos para nos governar. Se formos estudiosos, esforçados, solidários, exigentes e corajosos, quem nos governa também terá de o ser. Podemos transformar-nos, por nossa própria vontade, em pontos de inflexão e de mudança. E com isso mudaremos o nosso mundo…

Foi isso que fez o diplomata Aristides de Sousa Mendes, que quero saudar na pessoa dos seus dois netos aqui presentes. Parece-me que a ele se podem aplicar todos as qualidades que são necessárias para mudar o mundo – sabedoria, esforço, solidariedade, exigência e coragem. Ele demonstrou, mesmo nas condições adversas em que actuou, ser capaz de mudar o mundo. E é por isso que ainda hoje, passados mais de 70 anos, aqui evocamos o seu nome e a sua figura. Que ele nos inspire a todos!…

Que posso dizer-vos mais? Talvez concluir com a ideia que precisamos de homens e mulheres verdadeiras! Precisamos de pessoas diligentes nas tarefas que lhes cabem, assim como precisamos de sábios, de filósofos, de estadistas, de empresários, de pedagogos. Eu fico triste porque a democracia ainda não produziu uma cultura da responsabilidade, do esforço individual, da exigência e da coragem. Mas sei que as novas gerações, um dia, dirão: - Basta! E redobrarão o nosso orgulho de ser Portugueses!

E tenho alguma confiança de que esse tempo não vem longe…

Antes de terminar, quero deixar uma palavra de gratidão, em meu nome e em nome da minha mulher, à Associação Cultural 25 de Abril de Toronto pelo afectuoso acolhimento que todos nos têm proporcionado.

Muito obrigado a todos…

 

Viva a AC25A de Toronto!

Viva a A25A!

Viva o 25 de Abril!

Viva Portugal!


                                        Aspeto do bolo de aniversário preparado para a ocasião.




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