Em 2013, o Congresso Internacional de
História Militar realizou-se em Sófia, na Bulgária. A Comissão Portuguesa de
História Militar participou com vários trabalhos, incluindo um sobre a Guerra
Colonial, assinado por mim e pelo David Martelo e intitulado “Operação Mar
Verde”. A apresentação foi feita em Inglês, mas a versão que aqui apresento é
em Português. Foi também publicado nas Atas do Congresso, no ano seguinte.
Para nós revestiu-se de alguma
sensibilidade esta apresentação, pois participavam no Congresso algumas
delegações de países africanos, incluindo do Senegal, mas não da Guiné-Conacri,
país visado pela operação Mar Verde. Aliás, as questões não se fizeram esperar
e a discussão permitiu também fazer outros esclarecimentos adicionais que não
constam do texto principal.
Ainda hoje mantemos muitas dúvidas sobre
os envolvimentos desta ação, e sobre as circunstâncias que conduziram à sua
realização.
Eu e o Carlos de Matos Gomes já
tínhamos anteriormente, em “Os Anos da Guerra Colonial”, abordado a questão,
expressando também aí as dúvidas que a ela estavam ligadas. O David Martelo
trouxe novos elementos, em especial relacionados com o desenrolar concreto da
operação e com a forma como foi planeada e levada a efeito no terreno.
Fico grato a ambos por me autorizarem a
partilhar este texto neste blogue.
Antecedentes
De
1963 a 1974, desenrolou-se na colónia portuguesa da Guiné-Bissau um conflito
armado entre o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo
Verde) e as Forças Armadas portuguesas, no âmbito do grande movimento descolonizador
do pós- II Guerra Mundial. O regime português, chefiado por Oliveira Salazar,
que implantara uma ditadura desde os inícios da década de trinta com o nome de
Estado Novo, resistiu ao movimento descolonizador (aos “ventos de mudança”, nas
palavras de Harold MacMilllan) até ao ponto de se envolver em três frentes de
combate contra os movimentos independentistas de Angola, Guiné-Bissau e
Moçambique. Os movimentos nacionalistas tinham como objectivo obter a
independência dos seus territórios, apoiados por um ambiente internacional
muito favorável.
O
território da Guiné-Bissau situa-se na costa ocidental de África, sendo
relativamente exíguo (36.544 Km2) e muito plano. O litoral é muito recortado,
com uma rede fluvial extensa, o que confere aos seus rios um importante papel
como vias de comunicação entre o mar e o interior. Junto da costa existe um
complexo de ilhas, o que lhe confere condições muito propícias a operações
conjuntas, com destaque para o emprego de meios navais.
Território da Guiné-Bissau. |
A Guiné-Bissau confina com a República da Guiné (independente desde 1958) e com o Senegal (independente desde 1960), o que possibilitou que ambos dessem ao PAIGC um apoio significativo e constituíssem o “santuário” necessário às operações militares levadas a cabo contra as forças portuguesas presentes no território.
A
protecção que os dois países vizinhos davam às forças do PAIGC preocupava o
governo português e o comando militar do território, constituindo, no seu
conceito operacional, uma limitação assumida, embora não completamente
inviolável. De qualquer modo, havia recomendações expressas para evitar a
violação das fronteiras, que só em último caso deveria ocorrer, e sempre de
forma rápida e o mais dissimulada possível, a fim de que o Estado português não
fosse internacionalmente comprometido. Em algumas acções de combate que
implicaram perseguição a forças do PAIGC e a eventual violação das fronteiras,
em resultado de ocorrências não planeadas, as penetrações em território
contíguo foram sempre de limitada profundidade.
Sempre
que o planeamento de uma operação exigia a eventual ou mesmo assumida violação
de fronteiras, o comando militar português preferia utilizar as unidades de
infantaria e de fuzileiros navais constituídas por naturais do território
(tropas africanas), capazes de operar com uniformes e armamento diferentes do
utilizado pelo exército e pela marinha, podendo ir ao ponto de planear a
utilização de armamento oriundo dos países do Pacto de Varsóvia, semelhante ao
utilizado pelos guerrilheiros e combatentes nacionalistas.
Vamos
apresentar a síntese de uma operação planeada pelo comando português, única
neste género levada a efeito nos doze anos que durou o conflito na
Guiné-Bissau, e que tão longas e funestas consequências trouxe para o regime
português, já com uma posição muito débil no concerto das nações. Falamos da
operação “Mar Verde”, levada a cabo em Novembro de 1970, em apoio a um golpe de
Estado na República da Guiné.
A
ideia de executar uma incursão de maior envergadura em território da República
da Guiné surgiu em Agosto de 1969 como um golpe de mão destinado a libertar os
mais de vinte prisioneiros de guerra portugueses que estavam em Conacri, na
posse do PAIGC. Outro objectivo que parecia fácil de atingir era a destruição
das lanchas-rápidas P6 do PAIGC e KOMAR da República da Guiné,
que constituíam uma grave ameaça por serem bastante mais velozes do que as da
marinha portuguesa, embora se apresentassem muito vulneráveis a um ataque de
surpresa, quando atracadas no porto de Conacri.
No
final de 1969, estando já em curso o planeamento da operação, o comando militar
português em Bissau, liderado pelo general António de Spínola, tomou
conhecimento de que o governo de Lisboa mantinha contactos com elementos
dissidentes do presidente Sékou Touré desde o Verão de 1968. Pretendiam esses
elementos que Portugal apoiasse o desencadeamento de um golpe de Estado para
derrubar o regime instalado em Conacri, pelo menos com meios financeiros e
armamento. Ofereciam, em troca, o estabelecimento de relações diplomáticas com
Portugal e a liquidação do PAIGC na Guiné-Conacri. Nessa fase dos contactos,
não era pedido às autoridades portuguesas que o território da Guiné-Bissau
fosse usado como base de partida para a operação, apontando-se o território da
Costa do Marfim para tal fim.
Tendo
o governo português aceitado colaborar com os opositores de Touré – onde
sobressaía o Front National de Libération Guinéen (FNLG), presidido por
Paul Dechanbenoit –, o projecto de golpe de mão ganhou a amplitude estratégica
de um golpe de Estado, que não estaria no pensamento inicial do comando militar
de Bissau. A mudança de regime em Conacri e a prometida neutralização do PAIGC
no país constituiriam um rude golpe nas capacidades políticas e militares do
movimento independentista!
Os
mais de dois anos decorridos entre a data da primeira abordagem feita pelos
dissidentes guineenses ao governo de Lisboa e o desencadeamento da operação
espelham bem as dúvidas que as capacidades dos revoltosos inspiravam às
autoridades portuguesas. Daí que o planeamento já existente relativo ao golpe
de mão a Conacri se mantivesse como base da operação.
Desde a sua concepção até à execução final, a operação foi sempre comandada pelo capitão-tenente Alpoim Calvão, fuzileiro especial da Marinha portuguesa, apoiado pelo comando militar português da Guiné e pelas mais altas autoridades políticas portuguesas. Do relatório da operação que apresentou e que hoje é do domínio público, é possível extrair a missão atribuída à força comandada por Calvão:
· Realizar um golpe de Estado na República da
Guiné, a fim de permitir a subida ao poder dum governo favorável aos “altos
interesses da Nação”;
· Paralelamente executar um golpe de mão sobre
as instalações do PAIGC em Conacri, a fim de lhe causar baixas, destruir
material, causar danos psicológicos e libertar os 26 militares portugueses
detidos nas prisões do movimento.
As
duas partes da missão tinham probabilidades de sucesso muito diferentes. A
execução do golpe de Estado seria favorecida pelo golpe de mão português, mas o
sucesso da sua execução ficava muito dependente do desempenho da força da FNLG
e dos seus apoiantes em Conacri. Além disso, em ambos os casos – mas sobretudo
no concernente ao golpe de Estado – a qualidade das informações que suportariam
o planeamento era de importância decisiva para o sucesso da operação.
O
empenho pessoal do comandante-chefe António de Spínola na operação está bem
patente na carta que, de Bissau, endereçou ao primeiro-ministro Marcelo Caetano
(que substituíra em 1968 Oliveira Salazar), com data de 12 de Novembro de 1970,
uma semana antes do início da acção, na qual o comandante-chefe português
afirma convictamente:
«Pela
minha parte, assumo a plena responsabilidade local do seu lançamento, correndo
os riscos necessários, pois continuo firmemente convencido de que, apesar dos
indiscutíveis sucessos já alcançados no âmbito de uma contra-revolução social,
perderemos irremediavelmente a Guiné se não neutralizarmos o inimigo no
exterior» ( ANTUNES, Freire, Cartas Particulares a Marcello Caetano, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1985, Vol. I, pp. 148-150).
No
seio do governo português a questão não foi pacífica, contrastando o apoio que
lhe concedeu o primeiro-ministro com a oposição manifestada pelos ministros da
Defesa e do Ultramar, ambos receosos das repercussões internacionais de tão
perigosa iniciativa.
Preparativos
A
capital da República da Guiné tem uma configuração sui generis, por
estar localizada numa península com um extenso istmo. Na perspectiva de um
ataque anfíbio, essa configuração tem a vantagem de apresentar todos os alvos a
curta distância do mar.
Em
17 de Setembro de 1969, quando a decisão final sobre a operação ainda estava
pendente, Alpoim Calvão comandou um reconhecimento à cidade de Conacri, uma vez
que as informações disponíveis (fornecidas pelos respectivos serviços
portugueses) eram muito insuficientes e desactualizadas. O reconhecimento foi
efectuado pela lancha de fiscalização Cassiopeia, a qual foi disfarçada
para parecer um barco de pesca. Às 02H00, o navio, aparecendo de sul, entrou no
canal entre as ilhas de Loos e Conacri e posicionou-se no ponto mais favorável
para a recolha de dados através do radar, nomeadamente o recorte dos novos
molhes de acostagem do porto. Às 03H00 a missão foi considerada terminada,
iniciando-se o regresso.
Em
Janeiro de 1970, a base operacional para a preparação da operação foi
estabelecida na ilha de Soga, no arquipélago dos Bijagós. Iniciaram-se ao mesmo
tempo as operações de recrutamento dos combatentes afectos à FNLG, os quais
começaram a convergir para Soga provenientes dos países onde estavam exilados –
Serra Leoa, Gâmbia e Senegal. A maior parte destes combatentes foram recolhidos
por unidades da Marinha portuguesa nas praias dos referidos países, em pequenas
operações furtivas, previamente combinadas com os dirigentes da FNLG.
Na
ilha de Soga, no mais completo segredo, estes elementos da FNLG submeteram-se a
um adequado treino militar. No final, ficaram prontos cerca de 150 elementos da
FNLG, aos quais foram acrescentados cerca de vinte milícias da Guiné Portuguesa
que tinham algum conhecimento da Guiné-Conacri. O enquadramento destes homens,
não pertencentes às Forças Armadas portuguesas, foi garantido por antigos
oficiais e sargentos do exército colonial francês, o mais graduado dos quais
era Diallo Thierno, que tivera a patente de major. Contudo, o seu treino ficou
a cargo de oficiais e sargentos portugueses.
Apenas
cinco dias antes da partida para Conacri, se deslocaram para a ilha de Soga as
forças regulares portuguesas participantes na operação – fuzileiros e comandos
africanos negros, naturais da colónia. Incluíam uma Companhia de Comandos Africanos
(150 homens) e um Destacamento de Fuzileiros Africanos (80 homens). Todo o
pessoal envolvido na operação envergava uniformes diferentes dos uniformes
portugueses e o armamento era de origem soviética. Os combatentes foram
instruídos no sentido de não levarem consigo qualquer objecto que pudesse, no
caso de captura, constituir indício comprometedor para Portugal. Os poucos
militares brancos das equipas a desembarcar receberam ordens para escurecer as
partes visíveis do corpo.
O
transporte destas tropas foi efectuado em seis navios: quatro lanchas de
fiscalização da classe Argos e duas lanchas de desembarque. A força, sob
o comando de Alpoim Calvão, tomou a designação de Task Group 27-2 (TG 27-2).
Conceito da operação
Do
conjunto de tarefas estabelecidas para a acção militar, algumas apresentavam-se
como prioritárias, de cujo êxito dependia a execução das restantes. Estas
prioridades eram as seguintes:
· Destruição dos meios navais inimigos (PAIGC
e República da Guiné);
· Neutralização dos aviões da Força Aérea
guineense estacionados na sua base (incluindo os Mig-17), acção essencial para
o prosseguimento das operações;
· Neutralização das forças terrestres nos seus
quartéis.
A
concretização favorável desta sequência de acções devia permitir, não apenas que
o golpe de Estado tivesse êxito, mas também o sucesso das restantes missões. As
mais importantes destas incluíam o ataque às instalações do PAIGC em Conacri, a
liquidação ou captura dos dirigentes que ali se encontrassem e a libertação dos
prisioneiros de guerra portugueses que estavam sob o seu controlo.
As
forças foram organizadas em várias equipas de assalto, correspondendo a cada
uma os respectivos objectivos:
ALFA - Palácio presidencial
BRAVO
- Ministério do Interior
CHARLIE
- Direcção da Gendarmerie
DELTA
- Residências dos ministros Béavogui e Sayfoulah Djallo
ECHO
- Gendarmerie
FOXTROT
- La Paternelle (Cubanos)
GOLF
- Correios
HOTEL
- Rádio Boulbinet
INDIA - Central Eléctrica
MIKE - Quartel Samory
OSCAR - Guarda Republicana
PAPA - Istmo
SIERRA - Aeroporto
VICTOR
- Lanchas-rápidas
ZULU
- PAIGC
Em
19 de Novembro, véspera da partida, o comandante-chefe António de Spínola
deslocou-se à ilha de Soga, contactando com as tropas ali presentes.
Às
20H00 de 20 de Novembro de 1970, o TG 27-2, comandado por Alpoim Calvão, zarpou
da ilha de Soga. Um avião P2V5 da Força Aérea Portuguesa sobrevoou a força,
reconhecendo o estado da rota. Outros meios aéreos foram mantidos em alerta, em
apoio da operação, especialmente na fase do seu regresso à base.
Os
navios atingiram as imediações de Conacri, sem que a sua presença fosse
descoberta, pelas 20H00 do dia seguinte. No ponto de dispersão, cada um dos
seis navios iniciou a navegação para as posições mais adequadas ao desembarque
das equipas, de ambos os lados da península da cidade. A lancha de fiscalização
Orion, com o comandante da operação, fundeou a NNW do quebra-mar que
protege o porto, à distância de meia milha. Das restantes, três fundearam a
norte da cidade e as outras duas dirigiram-se para sul.
Execução
A
acção foi desencadeada às 01H45 do dia 22, um domingo, com completa surpresa,
quando só os locais de vida nocturna se encontram abertos.
Partindo
da lancha Orion em botes de borracha, a equipa VICTOR dirigiu-se para o
quebra-mar e para a doca onde se encontravam os navios a neutralizar. Eliminada
a sentinela, os elementos da equipa precipitaram-se sobre as lanchas-rápidas P6
e pelas escotilhas das cobertas e das casas dos motores lançaram granadas de
mão que deram origem a vários incêndios. Atravessaram a correr o pontão e
fizeram o mesmo às três Komar que estavam atracadas do lado norte,
regressando, depois, para bordo da Orion.
Entretanto,
da lancha de desembarque Bombarda saiu a equipa HOTEL, em dois botes de
borracha, a fim de se apoderar da Rádio Boulbinet. Contudo, depois do
desembarque, o seu comandante, um oficial da Guiné Portuguesa, desorientou-se e
não conseguiu cumprir a missão. Em consequência, a proclamação da FNLG não
chegou a ser lida aos microfones da emissora, como estava previsto.
Seguidamente,
em duas vagas de botes de borracha, desembarcaram as equipas ALFA, BRAVO,
CHARLIE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF. No quartel da Gendarmerie, foi encontrada
forte resistência, que acabou por ser dominada, mas os restantes objectivos no
centro de Conacri foram ocupados sem grande oposição. No palácio presidencial,
não foi encontrado Sekou Touré.
Por
sua vez, as equipas ÓSCAR, ÍNDIA e MIKE partiram LDG Montante, em
direcção aos seus objectivos. A primeira, em botes de borracha, aproou ao
quartel da Guarda Republicana, onde, após aceso combate, conseguiu o completo
domínio do local, libertando cerca de 400 presos que aí se encontravam. O
desembarque das equipas ÍNDIA e MIKE fez-se directamente da lancha, que atracou
ao cais do Yacht Club. A equipa ÍNDIA conseguiu controlar a central eléctrica,
depois de ter neutralizado a respectiva guarda. O corte de luz que se seguiu
mergulhou a cidade na escuridão, contribuindo para a desorientação das forças
locais.
A
equipa MIKE percorreu a pé cerca de um quilómetro e ocupou, sem resistência, o
campo militar de Samory, enfrentando, depois, uma coluna motorizada que acorreu
ao local.
A
equipa ZULU partiu das lanchas de fiscalização Dragão e Cassiopeia
em dez botes de borracha, só conseguindo chegar a terra pelas 02H15. Dividiu-se
em três grupos, dirigindo-se o primeiro para a prisão La Montaigne, onde se
encontravam detidos os 26 militares portugueses. Após um curto mas violento
combate com a respectiva guarda, todos foram libertados. O segundo grupo atacou
o QG do PAIGC, destruindo edifícios e viaturas e abatendo alguns militantes.
Amílcar Cabral, o líder do PAIGC, estava ausente no estrangeiro, o que não era
conhecido. O terceiro grupo assaltou o campo das milícias e a Vila Silly,
residência alternativa de Sekou Touré, onde este também se não encontrava.
Finalmente,
quando a equipa SIERRA, que tinha por missão ocupar o aeroporto de Conacri e
destruir os aviões de caça Mig-17, desembarcou, já se ouvia forte tiroteio do
lado da cidade. A equipa seguiu, em marcha forçada, para o aeroporto, que
ocupou sem resistência. Contudo, os Mig não se encontravam ali estacionados.
Foi
durante esta marcha para o aeroporto que o tenente comando Januário, natural da
Guiné Portuguesa e recentemente condecorado pelas autoridades portuguesas,
desertou com vinte dos seus homens.
O
facto de os aviões Mig não terem sido encontrados causou uma grande apreensão
ao comando da operação, uma vez que o facto concedia domínio do ar ao inimigo.
Nestas circunstâncias era de considerar a possibilidade dos navios sofrerem um
ataque aéreo logo que houvesse luz do dia. Isso levou Alpoim Calvão a decidir
pela conclusão da operação cerca das 04H30, ordenando o reembarque de todas as
forças. Para esta decisão também contribuiu a constatação de que a implantação
da FLNG em Conacri era muito inferior ao que os seus dirigentes haviam
prometido. Mesmo assim, alguns dos militantes da FLNG que participaram na
operação preferiram continuar em Conacri, onde, nos dias seguintes,
participaram em combates contra as tropas fiéis a Touré, sem qualquer sucesso.
O
reembarque demorou mais que o desejável, começando a aparecer os primeiros
alvores do dia.
As
manobras das embarcações que recolheram as equipas foi presenciada por uma
multidão de guineenses que aplaudiram com entusiasmo os militares portugueses,
julgando estarem a assistir à queda do regime de Sékou Touré, segundo os
relatos dos militares portugueses. Terminada a recolha das equipas, a TG 27-2
rumou à ilha de Soga, onde chegou pelas 16H25 do dia seguinte, 23 de Novembro.
A força sofreu três mortos e nove feridos, deixando atrás de si um rol de
baixas estimado em 500 mortos (militares e civis).
Considerações finais
A
operação Mar Verde, sob o ponto de vista estratégico, falhou completamente. O
regime de Touré tremeu mas não caiu e a posição do PAIGC na República da Guiné
não sofreu qualquer alteração. Ressalve-se o sucesso obtido com a destruição
das lanchas-rápidas e com a libertação dos 26 prisioneiros portugueses.
Na
sequência da operação, cuja autoria o governo português se negou a reconhecer,
reuniu de emergência o Conselho de Segurança da ONU, a pedido da República da
Guiné, sendo aprovada uma resolução em que era exigida a “retirada imediata de
todas as forças armadas e de todos os mercenários estrangeiros” da República da
Guiné. A 8 de Dezembro, foi aprovada a resolução 290 do Conselho de Segurança,
condenando expressamente Portugal pela invasão da Guiné, e considerando, pela
primeira vez, que “a presença do colonialismo português no continente africano
é uma séria ameaça à paz e à segurança dos Estados africanos independentes”. A
resolução foi aprovada com 11 votos a favor; França, Espanha, Grã-Bretanha e
Estados Unidos abstiveram-se.
A
ideia que ainda hoje resta é que a acção contra Conacri foi um tiro no escuro,
muito à revelia da habitual política seguida pelo governo português de
desenvolvimento de relações amistosas com as autoridades e as populações dos
países vizinhos, embora poucas vezes com sucesso. A execução de uma operação
deste tipo levantou sempre muitas dúvidas, já que, a ter tido o êxito que os
seus mentores e executantes esperavam, poderia desencadear uma escalada de
violência, sempre desfavorável ao regime português e à sua política colonial.
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