No dia 2 de Junho de 2010 participei no
III Curso de História Militar da Faculdade de Letras de Lisboa, fazendo uma
conferência sobre o tema que me foi proposto pelos Professores que orientaram o
curso, os meus amigos António Ventura e José Varandas: “O grande impasse:
Verdun, 1916”.
Nunca tive oportunidade de publicar o
texto da conferência que apresentei. Aqui fica, com outro título.
Foi-me
pedido para vos falar de Verdun, como o grande impasse. Reflectindo sobre o
tema, fui levado a concluir que poderemos de facto falar de Verdun como o
grande impasse, mas também poderíamos falar do Somme, como o grande impasse, ou
do Marne, ou da Flandres, ou da Champagne. A Grande Guerra configurou-se como
um grande impasse político, estratégico e táctico. A frente ocidental
estabilizou em torno de uma longa linha de trincheiras, da fronteira suíça ao
Mar do Norte. E ninguém soube encontrar forma de sair do impasse. Nem a
política, nem a estratégia, nem a indústria. Só quatro anos depois, por cima de
milhões de baixas, se começaram a vislumbrar sinais de que o impasse poderia
ser quebrado. A indústria respondeu com o carro de combate e a aviação de
combate e os estrategas com as formas de utilização das novas armas. A política
só cedeu quando nada mais havia a fazer!
No
início da guerra, em 1914, os contendores eram:
Por
um lado, a Alemanha, o Império Austro-Húngaro e a Turquia;
Por
outro, a França, o Reino Unido, a Rússia, a Bélgica, a Sérvia.
A
pouco e pouco, outras potências e países acabaram por entrar na guerra – por
exemplo, a Bulgária, ao lado das potências centrais; e a Itália, a Grécia,
Portugal, a Roménia e finalmente, em 1917, os Estados Unidos, ao lado dos
Aliados.
Mapa que integra o Plano Schlieffen alemão e o Plano XVII francês. |
A
Alemanha sabia que num conflito futuro teria que preparar-se para combater em
duas frentes – a Oeste, enfrentando a aliança entre a França e a Inglaterra (Entente
Cordiale) e a Leste, resistindo à Rússia, ligada por vários tratados às
potências do Ocidente. O plano Schlieffen, concebido pelo general do mesmo
nome, chefe do Estado-Maior-General alemão e concluído em 1906, traduz o dilema
alemão perante um conflito europeu de grandes dimensões. Assim, o plano
entendia que na primeira fase da guerra, em seis semanas, as forças alemãs,
constituídas por quase 90% dos efectivos, deviam atacar a Ocidente terminando
com a tomada de Paris, através da Bélgica (e Holanda), e assegurando com os
restantes 10% a contenção a Leste, face à lentidão de mobilização do exército
russo; conseguida a vitória a Ocidente, as forças seriam transferidas para
Oriente para se confrontarem com a Rússia.
O
plano francês (Plano XVII), baseado na doutrina da ofensiva a todo o custo,
orientou-se predominantemente para a conquista dos territórios perdidos pela
França em conflitos anteriores, como a Alsácia e a Lorena.
O
mês de Agosto de 1914 é crucial para a compreensão do que veio a suceder nos
anos seguintes.
Os
enormes efectivos do Exército alemão que invadem a Bélgica, a caminho de Paris,
procuram seguir o Plano Schlieffen. A França percebe tardiamente a estratégia
alemã. O seu Exército, comandado por Joffre, guiou-se pelo Plano XVII, mantendo
a ofensiva por dois eixos principais, a Norte e Sul de Metz, mas desguarnecendo
perigosamente a região Nordeste. Tropas inglesas voltam ao Continente europeu,
com uma força expedicionária comandada por John French.
As
primeiras e sucessivas batalhas trazem para o teatro de operações as grandes
linhas de força do empenhamento das unidades militares em grande parte dos
longos 51 meses que a guerra irá durar - fogos maciços, efectivos volumosos,
desastrosas tentativas de avanço em terreno descoberto, milhares de mortos,
organização do terreno, estabilização das frentes, trincheiras.
Todas as batalhas foram devastadoras, com milhares
de baixas de ambos os lados, em que o intenso fogo das metralhadoras e da
artilharia se tornou decisivo no resultado dos combates.
Mapa representando a linha de trincheiras desde a Suiça ao Mar do Norte, depois da estabilização da frente ocidental. |
Mas
se o sistema de trincheiras se tornou rapidamente efectivo no flanco Sudeste, o
flanco Nordeste veio a ser preenchido quase em paralelo por ambos os lados, em
operações contínuas, a caminho do canal da Mancha, a chamada “corrida ao mar”,
até que se desenhou uma linha de organizações defensivas, que veio a
estender-se por cerca de 765
km , entre a fronteira suíça e o Canal da Mancha. Será em
torno desta “fronteira de guerra” que as operações futuras se virão a
desenrolar na frente Ocidental.
A
primeira grande surpresa ocorrida no campo de batalha foi a eficácia das novas
armas, em especial da metralhadora e da artilharia. A superioridade do fogo
sobre os outros elementos do combate foi decisiva para a forma de combater nos
campos da Grande Guerra.
A
metralhadora, como arma baseada no conceito de tiro múltiplo e contínuo, surgiu
muito antes da Grande Guerra. Mas os responsáveis militares europeus não se
aperceberam, antes de as operações começarem, da importância que viria a ter no
combate. A sua influência no desenrolar da guerra foi enorme, levando à
construção de abrigos e rapidamente das trincheiras, única forma de proteger os
combatentes do seu fogo.
Aspecto de uma trincheira. |
Este
sistema de trincheiras, se por um lado paralisou a guerra, obrigando as
operações a girar em torno da imensa linha de
contacto, sem alternativa aos ataques frontais excessivamente mortíferos, por
outro lado obrigou a repensar formas de ultrapassar o impasse. Foi assim que se
desenvolveram novas tácticas e novos equipamentos, começando pelo papel da
artilharia, passando pelo uso de gases e acabando na importância do carro de
combate e da aviação de combate.
Nas
trincheiras, a rotina do dia-a-dia era muito penosa e as condições de vida
extremamente precárias. Tudo se organizava em função do inimigo, da vigilância,
da segurança, da capacidade de sobrevivência. As condições sanitárias eram de
extrema precariedade, as doenças bastante comuns, o sofrimento constante.
Deslocamento de uma boca de fogo de artilharia. |
A
artilharia teve um papel fundamental nos campos de batalha da Grande Guerra. As
suas acções traduziam-se em longas preparações e contra-preparações, barragens
e flagelações, em que eram consumidos milhões de granadas de todos os calibres,
soterrando homens e materiais, abrindo enormes crateras, e transformando o
campo de batalha numa paisagem lunar.
Houve
inovações não só nas armas propriamente ditas, nas munições e nas cargas
propulsoras, mas também na condução do tiro, no sentido da sua eficácia
progressiva. Outras inovações vieram também contribuir para o emprego da
artilharia, como o telefone, o balão cativo, a TSF e o avião, permitindo a
observação e aperfeiçoamento do tiro.
No fim de 1914 toda a movimentação no campo de batalha terminou e a
guerra imobilizou-se nas trincheiras.
Em
1915 várias tentativas foram feitas para romper as linhas. Contudo, todas elas
falharam, tendo como único resultado terríveis perdas de vidas. O ano
caracterizou-se, na frente ocidental, por uma postura predominantemente
ofensiva por parte dos Aliados e por uma prudente contenção defensiva do lado
alemão.
Joffre
convenceu-se de que conseguiria penetrar o dispositivo alemão se fosse capaz de
obter nítida superioridade de meios em troços estreitos de frente, economizando
forças nos locais menos propícios a acções ofensivas. Escolheu as zonas que
enquadravam o saliente da frente alemã – Arras, Somme e Champagne.
Por
seu lado, a posição de Falkenhayn, como chefe do estado-maior alemão, estava
longe de constituir um factor de unidade dentro do exército alemão. A questão
fulcral no plano estratégico era decidir sobre qual das duas frentes –
ocidental ou oriental – deveria merecer a prioridade dos recursos.
Falkenhayn
não assumiu claramente a opção do esforço principal a oriente porque tal
decisão seria uma confissão pública do fracasso da ofensiva a ocidente. Esta postura
feriu a sensibilidade dos dois principais responsáveis da frente oriental –
Hindenburg e Ludendorff.
Em
Março de 1915 os britânicos lançaram uma ofensiva no sector de Neuve-Chapelle.
Em apenas 20 minutos, obtiveram uma penetração de 1500 metros . Os alemães
contra-atacaram com as suas reservas (entre as quais a 6.ª Divisão Bávara de
Reserva, onde Adolf Hitler prestava serviço como estafeta de um batalhão),
anulando grande parte do êxito inicial. Em três dias de combates, a troco de
umas escassas centenas de metros de terreno, a FEB sofreu 11.652 baixas contra
cerca de 8.600 do lado alemão.
O
que estava em causa era o diminuto poder de choque da infantaria face ao grande
volume de fogos com que era alvejada. A indústria só poderia resolver o impasse
desde que lograsse produzir uma arma que conjugasse o poder de fogo e a
mobilidade com uma protecção eficaz. Essa arma – o carro de combate (ou tanque)
– estava em preparação, mas só faria o seu aparecimento nos campos de batalha
do Somme, em 1916.
Do
lado alemão, o apelo à indústria seguiu, inicialmente, caminhos diferentes. Em
vez de se preocuparem com a forma de romper as defesas fortificadas através do
aumento do poder de choque, procuraram encontrar um processo de destruição
maciça para o qual as trincheiras não fossem protecção suficiente. Esse processo
encontraram-no os alemães sob a forma de um agente químico letal (o cloro),
apesar da sua utilização estar interdita pela Conferência de Haia, de 1899.
Todavia, o atraso no desenvolvimento de carros de combate viria a ter funestas
consequências para o exército germânico.
Mapa de Ypres em 1915, sinalizando os ataques com gás. |
Em
Abril de 1915, os alemães tinham reunido, a poucos quilómetros de Ypres, 6.000
munições carregadas com gás de cloro. Às 17 horas de 22 de Abril, após um
intenso bombardeamento alemão, uma nuvem cinzento-esverdeada, soprada por uma
brisa Este-Oeste, começou a mover-se para as trincheiras francesas. Atingidos
pelo gás, milhares de soldados norte-africanos da 47ª Divisão (argelina) e
franceses da 87ª, de mãos nas gargantas, tossindo, cambaleando e com as faces
azuladas, abandonaram as posições e afastaram-se, desesperadamente, para a
retaguarda, deixando desguarnecidos oito quilómetros de frente. O ataque da
infantaria alemã que se seguiu não soube explorar convenientemente a ruptura da
frente, permitindo a reorganização do sector com o recurso de reservas.
A
rápida adopção das máscaras antigás fez com que a utilização do gás venenoso
jamais tivesse obtido os êxitos tácticos que se haviam imaginado. O seu emprego
estava, de resto, dependente de condições meteorológicas favoráveis,
nomeadamente da existência de vento com direcção e intensidade adequadas ao
desenvolvimento da nuvem de gás.
Em
Maio, os Aliados lançaram nova ofensiva no Artois. O 1.º Exército britânico,
partindo do sector de Neuve-Chapelle, na direcção das cristas de Aubers,
depressa viu o seu avanço bloqueado.
Só
em 25 de Setembro é que os Aliados desencadearam outra grande ofensiva,
simultaneamente no Artois e na Champagne. Não foram, contudo, suficientemente
hábeis para esconder os preparativos do inimigo, o qual se organizou, com
particular cuidado, numa faixa de 5
km de profundidade.
A
nova doutrina alemã, fruto da experiência de quase um ano de trincheiras,
previa o emprego do fogo defensivo numa sequência lógica e mortífera:
·
Fogos de artilharia contra as zonas de
reunião e as bases de ataque das unidades inimigas;
·
Barragens de artilharia sobre a
terra-de-ninguém, logo que as unidades atacantes iniciavam o avanço para os objectivos;
·
Fogos de metralhadora, a curtas distâncias,
sobre os elementos que tivessem sobrevivido às duas fases anteriores.
A
ofensiva aliada foi precedida de uma intensa preparação de artilharia que se
prolongou por quatro dias. Os efectivos empregues foram claramente superiores
aos de Maio e permitiram romper a primeira linha alemã em vários pontos.
Todavia, os resultados finais não foram muito diferentes dos da Primavera.
A
ofensiva prosseguiu, no Artois e na Champagne, até ao final de Outubro. Ao fim
de 5 semanas de combates, os Aliados tinham sofrido quase 200.000 baixas
(mortos, feridos e prisioneiros) e estavam com as reservas de munições de
artilharia a um nível que não permitia o apoio de operações ofensivas.
As
carnificinas destas batalhas não pareciam, porém, ser suficientes para levar os
chefes militares a repensar a forma de executar as operações, nem os políticos
a considerarem qualquer tipo de negociação.
Mapa da frente ocidental e localização de Verdun, com as operações principais em 1915 e 1916. |
Os
dois lados estavam convencidos que 1916 iria ser o ano da vitória! Os alemães
concentravam a sua certeza em
Verdun. Os aliados tentavam chegar à vitória no Somme.
Foi
por essa altura que os governos de Paris e Londres reconheceram a necessidade
de reforçar as medidas de coordenação, política e militar, entre todas as
potências aliadas. Assim, em 4 de Dezembro, Briand reuniu-se em Calais com
Lloyd George, ministro britânico das Munições, estando presentes Kitchener,
Joffre e Gallieni. Dois dias mais tarde, no GQG, em Chantilly, realizou-se o
primeiro Conselho de Guerra Interaliado, que, sob a presidência de
Joffre, contou com a presença de representantes militares da Grã-Bretanha,
Rússia, Itália, Bélgica e Sérvia. Nessa reunião, concertaram-se as grandes
linhas da actividade operacional em 1916, ficando esboçada uma estratégia de
incremento das acções ofensivas nas três frentes principais – ocidental,
oriental e italiana – e de clara contenção nos teatros de operações menores –
Salónica, Egipto e Mesopotâmia. Ficou assente, também, que as grandes ofensivas
deveriam ocorrer em simultâneo, de modo a dificultar a utilização das reservas
do inimigo. Tendo em atenção as dificuldades do exército russo, logo se
entendeu que as ofensivas dificilmente poderiam ocorrer antes de Junho de 1916.
Conhecido cartaz britânico de apelo à mobilização. |
A
atracção por acções de grande envergadura era apoiada na capacidade que os
Aliados entretanto haviam desenvolvido no campo industrial, possibilitando uma
produção intensa de armas e munições. Mas a França estava nos limites do
recrutamento. A maior expansão de efectivos relativamente ao início da guerra
verificou-se no exército britânico, graças à resposta entusiástica dos
voluntários ao apelo de Kitchener. Na Primavera de 1916, estavam de pé 70
divisões – dez vezes mais do que em Agosto de 1914. Este crescimento – que se
reflectiu, também, nos efectivos da FEB – permitiu, logo em Janeiro de 1916,
ocupar uma extensão maior da frente ocidental, ficando os britânicos com o
sector até aí atribuído ao 2.º Exército francês.
Do
lado alemão, Falkenhayn convencera-se de que havia dominado definitivamente o
exército russo. Estava bem informado acerca dos problemas internos do regime
czarista e acreditava que a Rússia se abeirava de uma revolução.
Consequentemente, chegara a altura de exercer, de novo, o esforço principal a
ocidente.
O
planeamento do seu quartel-general orientou-se para uma ofensiva na região de
Verdun – a operação Julgamento.
Segundo
Falkenhayn, a acção terrestre deveria ser complementada com uma guerra
submarina sem restrições, de forma a ferir a superioridade marítima e
industrial dos Aliados.
O
receio de provocar uma ruptura diplomática com os Estados Unidos levou a
marinha alemã a restringir os ataques a navios claramente identificados como
pertencentes a países em
guerra. Era este tipo de restrições que Falkenhayn julgava
necessário remover.
No
que toca à decisão de transferir para ocidente o esforço principal, Falkenhayn
tinha o apoio do Kaiser e do príncipe herdeiro. A oposição a tal decisão vinha,
naturalmente, da dupla Hindenburg-Ludendorff, sempre apostados numa vitória
decisiva a Leste.
Forte de Verdun e linha da frente. |
Constituindo
a região de Verdun um saliente pronunciado na longa frente de combate, a
ofensiva oferecia aí, do ponto de vista táctico, o aliciante de se poder
processar em duas direcções.
“A
Batalha de Verdun pode considerar-se a maior e mais longa da História. Pelo
menos na quantidade de homens participantes numa tão estreita faixa de terreno.
A batalha desenrolou-se entre 21 de Fevereiro e 19 de Dezembro de 1916 e causou
mais de 700.000 baixas (mortos, feridos e desaparecidos). O essencial da
Batalha não ocupou mais de uma dezena de quilómetros quadrados. De um ponto de
vista estratégico pode dizer-se que não havia qualquer justificação para esta
carnificina. A batalha como que se tornou uma questão de prestígio para duas
nações e para vários generais envolvidos, enquadrada pelo imenso impasse em que
a guerra se tinha transformado”.
Durante
Janeiro e Fevereiro de 1916, o 5.º Exército alemão foi reforçado com 10
divisões e diversa artilharia. Com 2,5 milhões de granadas disponíveis,
tratava-se da maior concentração de poder de fogo jamais vista. A ideia de
Falkenhayn era conduzir uma impiedosa acção de desgaste, obrigando o exército
francês a consumir-se numa estreita frente de 13 km .
A
experiência ensinara os franceses a não ter ilusões sobre a capacidade das
fortalezas se defenderem por si próprias. Verdun teria de ser defendida bem à
frente das fortificações.
Os
preparativos alemães não passaram despercebidos ao exército francês. Iniciados
a 21 de Fevereiro de 1916, os bombardeamentos causaram enormes destruições. Em 22
de Fevereiro a infantaria alemã lançou o ataque, embora apenas na margem
direita do Mosa.
A
24 de Fevereiro, toda a alinha avançada francesa havia sido ultrapassada e a
queda de Verdun parecia iminente.
Forte de Verdun. |
Joffre entregou, então, a defesa de Verdun ao general Pétain, conhecido pela sua firmeza.
Com
a sua chegada, a 26, onde até então houvera 5 divisões passaram a estar 4
corpos de exército (VII – I – XX – II). Pétain não perdeu tempo. Apesar da
contínua pressão dos alemães, a 27 já não se verificaram avanços dignos de
registo.
Entre
26 de Fevereiro e 4 de Março, o XX CE travou um encarniçado combate pela posse
do forte de Douamont, cujas ruínas acabaram por ficar na posse dos alemães.
Nesse combate, foi ferido e aprisionado o capitão Charles de Gaulle, futuro
presidente da França.
Tendo
falhado o ataque frontal às posições da margem direita do Mosa, os alemães
decidiram alargar a ofensiva aos terrenos da margem esquerda, mais abertos e
menos acidentados.
Mapa da batalha de Verdun. |
A 6 de Março, o primeiro ataque a Oeste do Mosa levou ao colapso da 67.ª Divisão. Todavia, os contra-ataques franceses repuseram a situação. A Este do rio, os ataques simultâneos também não produziram ganhos dignos de registo.
Em
9 de Abril, o exército alemão voltou a atacar, numa frente maior, ganhando
algum terreno a Oeste do Mosa. No entanto, Falkenhayn já não acreditava poder
vencer os franceses sem correr o risco de sofrer pesadas baixas. O desgaste que
planeara infligir ao inimigo era algo com que também tinha de contar para as
suas tropas.
No
início de Maio, o número de mortos e feridos alemães, desde o início da
ofensiva, havia atingido a cifra de 100.000. Com o decorrer do tempo, a erosão
tornou-se, mesmo, mais sensível do que nos franceses.
Estes,
através da rotação das divisões em primeiro escalão, garantiam às tropas algum
repouso em posições recuadas. Os alemães, pelo contrário, mantinham as mesmas
divisões ao contacto e recompletavam as baixas com rendições individuais.
Aspeto do Forte Vaux, depois da guerra. |
A
firmeza de Pétain, entretanto, era conseguida à custa de pesadas baixas. Começou
a dizer-se que o general menosprezava as perdas das suas tropas – opinião
partilhada pelo próprio Joffre –, o que aconselhava a sua substituição.
Assim,
na sequência da ofensiva de Junho, Pétain foi nomeado comandante do Grupo de
Exércitos do Centro – uma promoção – sendo substituído pelo general Robert
Nivelle, um perito em artilharia.
Mapa-desenho da região de Verdun. |
A 23 de Junho, o exército alemão lançou novo ataque na margem direita do Mosa, procurando, desta vez, conquistar os fortes de Souville e Tavannes.
Fê-lo
preceder de uma preparação de artilharia com gás “Cruz Verde”, uma forma
aperfeiçoada de gás de cloro. Dessa vez, porém, o objectivo principal do
bombardeamento foi a linha de posições da artilharia francesa. A neutralização
temporária dessas guarnições permitiu à infantaria alemã progredir em condições
de superioridade táctica. Este avanço colocou as tropas alemãs na posição mais
próxima de Verdun em toda a guerra. A situação era extremamente crítica para as
tropas francesas, prestes a serem expulsas da margem direita do Mosa.
A
30 de Junho, todavia, na sequência de contra-ataques iniciados a 24,
conseguiram suster o avanço alemão, marcando, assim, o final da primeira fase
da batalha de Verdun.
Quatro
meses de combates haviam provocado na região um grau de destruição nunca antes
imaginado. As perdas humanas, de ambos os lados, haviam subido aos 200.000
(mortos e feridos). A operação Julgamento, na sua versão eminentemente
ofensiva, saldara-se por um dispendioso fracasso que deixava abaladíssimo o
prestígio de Falkenhayn. A partir de Julho de 1916, a postura alemã
denotou um claro declínio ofensivo.
Entretanto,
outro factor veio interferir na conduta das operações: o início, a 1 de Julho,
da ofensiva aliada no Somme.
A
necessidade que as forças alemãs tiveram de acorrer com grande volume de meios
a outro ponto da frente permitiu aos franceses, entre 24 de Outubro e 3 de
Novembro de 1916, a
reconquista de uma parcela de terreno, em forma de cunha, na qual se incluíam
os fortes de Vaux e Douamont.
Finalmente,
a 11 de Dezembro, uma intensa preparação de artilharia deu início a nova
ofensiva francesa que, em 18, repôs, sensivelmente, as linhas correspondentes a
25 de Fevereiro.
A
derrota do exército alemão nos combates dessa semana ficou bem expressa nos
cerca de 12.000 prisioneiros e 284 bocas-de-fogo de artilharia caídos nas mãos
das tropas francesas.
A
Batalha de Verdun chegava ao fim. A linha de trincheiras que separava os dois
contendores era reposta na sua posição inicial. Mas o impasse permanecia.
Via Sagrada, Verdun. |
Aspecto do tráfego de camiões na Via Sagrada, Verdun. |
Via
|
Largura
|
Veículos
|
Pessoas
|
Cargas
|
Camiões
|
Média
|
3.900
Total
|
90.000
Semana
|
50.000t
Semana
|
6.000
Dia
|
Façamos também um balanço das baixas
FRANÇA
|
337.231
|
162.308 MORTOS OU DESAPARECIDOS
|
ALEMANHA
|
337.000
|
100.000 MORTOS OU DESAPARECIDOS
|
TOTAL
|
714.231
|
262.308
|
Aspecto de um dos fortes de Verdun, depois da guerra. |
Apesar
de tudo, foi na batalha do Somme que o impasse começou a resolver-se. Em
Setembro de 1916 apareceram os primeiros tanques, ou carros de combate,
que aliavam o poder de choque (peso) ao fogo (canhão/metralhadora), ao
movimento (motor de explosão) e à protecção (blindagem). Deslocando-se sobre
lagartas – aproveitando a tecnologia dos tractores caterpillar –, o
carro de combate podia acompanhar a infantaria em todo o terreno e a sua
blindagem não era perfurável pelas munições de armas ligeiras (espingardas e
metralhadoras) nem pelos estilhaços das granadas de artilharia.
Viatura blindada Renault T-17, uma das novas armas que possibilitou a solução do impasse na frente ocidental. |
Só
o impacto directo de um projéctil de arma pesada podia causar a sua destruição.
A utilização desta nova arma constituiu uma grande vitória técnica sobre a
indústria militar alemã, que, neste particular, se atrasou surpreendentemente.
O
primeiro ataque em que participaram os carros de combate Mark I (era
esta a designação dos primeiros modelos) desenrolou-se ao longo da estrada de
Albert para Bapaume.
O
avanço britânico só foi detido, 3
km à frente, devido a problemas mecânicos e ao
aparecimento de valas intransponíveis. Nesse primeiro ataque, só um dos 36 Mark
I utilizados foi destruído.
O
sucesso só não foi mais espectacular porque o desgaste dessa primeira
experiência deixou a maioria dos veículos com avarias complexas. Os ganhos
desse dia foram, por isso, perdidos na sequência dos contra-ataques alemães.
Foi, de resto, um cenário permanente de avanços e recuos que caracterizou a
batalha do Somme de Outubro a Novembro de 1916.
O
impasse gerado pela enorme superioridade do fogo no campo de batalha obrigou os
estrategas a procurar com pertinácia os meios e as formas de o ultrapassar -
prolongados bombardeamentos (numa espécie de combate ao fogo pelo fogo), gases
de combate, concentração de meios.
Mas
só novas armas, que mais uma vez revolucionaram a forma de fazer a guerra,
permitiram o desempate – gases (sem capacidade para decidir a batalha), carros
de combate e aviação. Estes meios, ao combinarem o fogo, o choque, a protecção
e o movimento, introduziram no campo de batalha a possibilidade de o comandante
interferir na manobra, usando todos os elementos essenciais do combate, e de
resolver o impasse. Os aliados desenvolveram estes meios com mais rapidez e em
maior quantidade e foi isso que lhes permitiu chegar à vitória. Ainda não tinha
chegado o tempo de encontrar formas de oposição à acção das novas armas.
Aspecto de uma trincheira na frente ocidental. |
Terminava
assim a Grande Guerra. Mesmo que a História viesse a provar a ilusão em que a
esperança se transformou, a verdade é que um enorme sentimento de libertação se
apoderou das martirizadas populações europeias.
Como
todos sabem, desta vez, os motivos de confiança nas condições de paz eram
limitados e essas condições constituíram-se, elas próprias, como razões da
continuação do conflito.
Concordo com a tua análise, que considero muito bem agarrada.Espero que nos continues a brindar com os teus escritos.
ResponderEliminarUm abraço
G.Novo
Caro amigo,
EliminarSó agora reparei no teu comentário, que agradeço.
Vou continuar, enquanto houver matéria.
Esperes que continues também com disposição para ler estas matérias que por vezes são algo maçadoras.
Abraço amigo.